Volver
Almodóvar e as suas mulheres; as suas heroínas de sempre, personagens centrais de um mundo injusto e caótico, que semeia a cada segundo pedras no seu caminho. Este fascínio profundo que Almodóvar espelha nos seus filmes em relação à condição feminina transfigura a vontade que este génio sempre teve de abordar o seu próprio combate interno, a sua homosexualidade, o mundo machista e homofóbico em que teve de viver, a figura endeusada da sua mãe e as agruras do amor, e talvez por isso “A lei do desejo” seja de facto o seu filme mais pessoal, mais perigoso, mais autoanalítico, e “Volver” o mais poderoso deles todos porque nele Almodóvar volta ao seu tema de sempre: as mulheres e a sua luta contra o destino.
Penelope Cruz têm aqui um dos seus mais completos papeis, pleno de intensidade, compondo uma personagem acossada, inclausurada numa rede de eventos que a fazem “fugir para a frente”, enfrentar o seu destino prescrito, como sempre acontece com os mártires da vida. Neste sentido, o cinema de Almodóvar faz lembrar o de Scorsese: ambos abordam a luta constante das suas personagens contra a inevitabilidade do seu destino (veja-se essa obra prima chamada “Silêncio” para entender o universo sufocante do realizador Norte Americano).
Um dos autores centrais da história do cinema pela forma como aborda o amor, as mulheres, o destino e as emoções, Almodóvar e este seu “Volver” devem fazer parte da prateleira de qualquer cinéfilo.