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Hoje, um pouco por todo o mundo recordamos a memória do nascimento de Jesus Cristo, um dos mais extraordinários seres humanos da história; uma história que mais não passa de uma centelha num oceano de tempo, desde o seu início há cerca de 14 biliões de anos; esse homem era um rosto na multidão que um dia ousou sonhar um mundo melhor, de tolerância de respeito pela dádiva da vida, de fraternidade entre todos os seres humanos. A minha admiração por ele é por isso esmagadora: enfrentou uma montanha imensa de totalitarismo, despeito, ódio e violência, mas não há nada que corte a raiz ao pensamento, como disse o poeta, nada pode nunca matar uma ideia, um conceito ou um sonho, que de tão intenso se torna real e vence a fronteira do tempo, do espaço e do desconhecido. Apenas assim atingimos a imortalidade: memória. Um sorriso no fim de tarde, naquele dia à beira mar, aquele abraço forte que mudou tudo, ou aquele momento que ficou para sempre. Numa fotografia, ou numa memória, vencemos o tempo, porque quando olhamos esses fragmentos ou registos de luz do passado nos reconhecemos e revivemos, nos reencontramos. Meu deus, que magia, que assombro.

O James Webb Telescope nas instalações da NASA

Hoje milhares de cientistas estão de coração apertado, trabalharam uma vida inteira para o que poderá ser um dos maiores feitos desta minha civilização jovem e sedenta de sonhos, de memórias. Com o James Webb Telescope, encerra-se um sonho antigo: olhar para trás no tempo, quase até ao começo de tudo, e através desse oceano desconhecido encontrar o nosso espelho, o nosso reencontro, porque como disse Sagan: “Somos uma forma de o Universo se conhecer a si próprio”.

Gostava de um dia poder olhar para trás e falar outra vez com o meu pai, com a minha avô, com amigos que perdi e talvez lhes poder dizer qualquer coisa, mas tudo isso está lá atrás e apenas os posso recordar numa fotografia, num fragmento de luz. Uma centelha no vasto oceano cósmico. Voltar. Voltar. Como gostaria de poder voltar.

Por isso neste dia mágico desejo a maior sorte do mundo a todos esses homens e mulheres que lutaram quase uma vida inteira para criar este instrumento maravilhoso e mágico, este telescópio que nos vai poder fazer olhar para trás, até a essa luz já tênue e difusa no príncipio do tempo, onde talvez nos reconheceremos.

Uma face entre a multidão. Que um dia ousou sonhar mais alto.