Horror sem fim
É complicado falar de “Martyrs”. Como objecto artístico em si, explora as fronteiras possíveis (admissíveis?) do cinema de horror, levando ao limite as suas convenções, pisando o arame farpado do desconforto do espectador, e neste sentido, “Martyrs” é uma obra extrema e de extremos e talvez por isso, ou mais por isso, encontra de mim e de muitos a reverência de quem entende o caminho que o artista tem de fazer antes de chegar a um cume, como é de facto este filme horrível no sentido lato, tenebroso e sem esperança, onde nos remexemos na cadeira durante duas horas e tal perante uma sinfonia gore sanguinolenta metodicamente executada e planeada.
O último acto então é algo para experienciar, além de simplesmente “testemunhar”, e ver uma personagem a ser torturada por mais de meia hora é, pelo menos na minha assunção, a minha definição de “limite”; e daqui podemos desencadear a reflexão sobre os limites do próprio objecto artístico em si. Em “Martyrs” não há um único segundo de sexo, porque aqui a pornografia é outra, muito mais punjente e perigosa: a violência levada ao limite do concebível, e esta pornografia da violência é encenada de uma forma que nos provoca desconforto milimétrico, revolta automática e um sentimento vazio de quem escapou a uma armadilha por pouco; a armadilha dos sentidos, prisioneiros naquela ultima meia hora de puro e destilado horror. Objecto de culto e o filme que abriu uma frincha polémica para o filão de onde veio “The Human Centipede (First Sequence)”, executado com mestria por um naipe de artistas de excepção, na realização, make-up, fotografia e efeitos visuais, continua a ser até ao presente um dos filmes mais extremos da história do cinema.
Para ver apenas se tiver estômago.