Herói sombrio

Herói sombrio

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Num embrulho visual invulgar proporcionado pelo talento de Greig Fraser, o mesmo director de fotografia de “Dune”, eis que respondemos ao batsinal de Matt Reeves para este muito aguardado “The Batman”; uma história estranhamente melancólica e cautelar sobre a corrupção e os valores da honestidade, os labirintos escuros “noir” que Robert Pattinson, perfeito no papel, percorre sem hesitação, rosto fechado e homem de poucas palavras, na sua solidão herdada do caos. Não tem a dimensão operática dos filmes de Nolan, nem a alma gótica de Tim Burton; com momentos evitáveis, como a cena ridícula do skydive, completamente falhada, ou os bandidos em morte cerebral que não sabem apontar à cabeça, enfim, mas que empresta à personagem um interessante ângulo de cinema noir, fazendo do homem morcego um Detective desvendando um caso de corrupção que infecta a cidade escura de chuva perpétua, coadjuvado pela bela Zoe Kravitz, uma espécie de contrapeso humano com as suas fraquezas e dúvidas.

The Batman

Um morcego com alma solitária, a quem não falta nem a voz off para o sentirmos mais próximo e carnal, mais violento quiçá, mais belo fotograficamente, mas por outro lado mais frio e ausente, distante. Um filme deslumbrante ainda que imperfeito como muitas vezes tem de ser. Imperdível.