Grande para quê?

Grande para quê?

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A espaços brilhante, mas vítima das suas limitações auto-impostas, “Oppenheimer” ensina mais uma vez a velha máxima da engenharia: “If it works, dont fix it!”, mas vamos por partes: Nolan escreveu o que se pode considerar um biopic clássico sobre a vida de um homem, mas aqui começam os problemas, pois a sua necessidade de meter tudo dentro de uma peça dramática de 3 h e tal provocou no arco desta personagem um desequilíbrio nítido no 3o acto, demasiado longo, com um incessante pingue pong entre Strauss e a comissão Macharthy (digamos assim) que funcionou de forma perversa como um anti-climax, pois a explosão na experiência “Trinity” deveria ter encerrado a história principal da personagem; foi um filme sobre o pai da bomba atómica que fomos ver? Ou sobre uma vítima da perseguição anti comunista do pós guerra? Em que ficamos Nolan? Penso que o realizador tentou respeitar a cronologia da história real e aquele último acto prova que continua ainda num try and error desde “Interstellar”, os filmes são bons, mas há sempre qq coisa no cinema de Nolan que falha de forma espectacular, a neste caso até nem foi só a carpintaria de argumento! Nolan é um pouco prisioneiro do seu dogma: a renúncia a efeitos digitais nos seus filmes está-lhe a causar óbvios problemas, e aquele plano ridículo em “Dunkirk” sobrevoando a praia com meia dúzia de filas de soldados na rebentação (basta consultar as imagens da época para percebermos a verdadeira escala que aquele plano deveria ter tido) foi só o prenúncio do que estava para vir, aqui em “Oppenheimer” não posso deixar passar a cena da detonação da experiência “Trinity”, que quase foi cómica de tão, digamos, “impotente”; nao sei quantas quilotoneladas de explosão reduzidas a um flash de luz, um rebentamento de meia duzia de latas de gasolina, tudo muito mal amanhado, com efeitos de som de partir a rir, planos escuros com lentes abertas ao máximo para desfocar o fundo, cortes para planos das personagens “admiradas”, enfim, quase cómico de tão mau, ficando óbvio que Nolan não teve planos suficientes para fazer da cena o que por ventura pretendia e teve de trabalhar com o que havia, e tudo porque “quase todos os efeitos especiais nos meus filmes são in-camera”, amigo… se é para ficar assim, acho que podes trazer o cgi em força. Sim os filmes modernos muitas vezes são uma espécie de orgia CGI, mas os efeitos visuais digitais existem por uma razão e resultam! If it works…DONT FUCKING FIX IT!!

E depois aquela mixagem de som… eu sinceramente pensava que era problema das cópias, mas desde “Interstellar” que noto problemas gritantes no som dos filmes do Nolan, as personagens são muitas vezes abafadas pela trilha sonora, filmes como “Tenet” simplesmente não funcionam em ATMOS por exemplo, não sei se é opção consciente de Nolan, numa tentativa tosca de aumentar o scope das cenas e a sua intensidade dramática, mas para mim aquilo é um desastre! E finalmente, vamos falar honestamente da opção pelos sensores de 70mm (IMAX)? Digam me lá quantos de vocês realmente “notam” que estão a ver um filme gravado para uma tela mais alta do que a vossa casa? De que serve aquele sensor gigantesco se depois não se tira vantagem usando, por exemplo, mais planos de grande angular (Kubrick, volta por favor!!), ou lentes de grande distância focal para se obter aquele efeito tridimensional de desfoque do plano de fundo? O director de fotografia de “Oppenheimer” serviu a história e compôs planos para contar a história que Nolan precisava, e bem, mas para isso o IMAX é “overkill”! É completamente desnecessário! Sendo que, na minha opinião o dinheiro poupado no departamento de efeitos visuais foi torrado nas despendiosas câmaras IMAX apenas para uma espécie de golpe publicitário, ajudando ao marketing do filme, nada mais. Gostei do filme, Cillian Murphy merece o óscar, Emily Blunt vai ser nomeada, e sobre isso falarei se calhar noutro post. Mas, foda-se Nolan, assim não pá. Assim, esquece.