Coração Selvagem

Coração Selvagem

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Imagem, som e cor, duas personagens cruzando um deserto povoado de duendes e bruxas más. Um road movie como uma metáfora e uma tela em constante transfiguração, cinema na sua essência: um caleidoscópio de sensações, som e imagem mesclados numa obra eterna que como talvez nunca antes tenha resumido o cinema à sua razão de ser: puro deslumbramento.

Este filme estabeleceu a imagética do road-movie para todo o sempre e Lynch inscreveu de uma vez por todas o seu nome no firmamento dos maiores da história do cinema, através do seu retorno à sua essência: a busca da beleza pura, da imagem e do som, da sensação, do arrepio de ver filmes no seu estado mais puro. É isso que impressiona em Lynch e em “Coração Selvagem”, a sua obsessão por mostrar e fazer sentir, numa sucessão de quadros que nos arrastam nesta espécie de poema moderno, louco e transgressor

A partir dum romance de Barry Gifford, David Lynch compõe um filme que encerra em si uma liberdade criativa que impactou profundamente o ano de 1991; Laura Dern terá o seu papel de sempre, e a sua mãe, Diane Ladd,  uma nomeação para um óscar, Nicholas Cage será o eterno “Sailor” e Dafoe talvez tenha criado a sua personagem mais mítica: o infame Bobby Peru. “Coração Selvagem” é uma obra angular do cinema contemporâneo na medida em que, como talvez nunca antes, se resume o que melhor se pode fazer em cinema, no uso da edição meticulosa e vibrante, do  som como elemento plástico, da fotografia deslumbrante, dos planos abertos e sobretudo da história que sugere uma liberdade, uma sensação de júbilo e a impressão de que tudo é possível, quando e conta uma história com luz e som como Lynch fez em “Coração Selvagem”.

Escrever com luz e cor e contar uma história impossível de ser contada de outra forma, sempre tem sido o mote da sua carreira. Lynch ensinou porque razão o cinema é tão especial e porque nos toca tão fundo. Redefiniu as regras, reinventou a sua linguagem, sonhou um cinema novo, sem paralelo na sua história, à imagem do que outros gênios fizeram antes dele. Por isso e por muito mais, Lynch e este seu “Coração Selvagem” inscreveram o seu nome para a eternidade.

Cinema que é como a liberdade. Frágil e precioso.