Babilónia para sempre

Babilónia para sempre

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Depois de “La La Land”, uma espécie de homenagem íntima ao mundo do cinema e aos que nele tentam subsistir, a cidade dos anjos como o seu eldorado e o deserto da realidade como o destino cáustico de duas personagens abandonadas à sua sorte, sem espaço para o amor; depois desta carta de amor que Damien Chazelle enviou a todos os amantes da 7a arte, este jovem sedento tenta uma abóbada total de encantamento; um excesso visual e uma excentricidade chamada “Babylon”, e que bebedeira é de facto este filme desregrado sobre a transição do mudo para os anos de ouro do som em Hollywood, que deixou muitas estrelas para trás, muito por causa da redefinição que provocou no planalto artístico entretanto atingido pelas décadas do cinema mudo. Gosto, gosto muito, na verdade adoro os riscos que Chazelle esteve disposto a correr para fazer o filme que queria fazer, e o resultado é brilhante, intenso, cheio de humor e de momentos icónicos, como o monólogo furioso de Margot Robbie na festa de angariação de financiadores ou logo na cena inicial do elefante (sim, elefante, e mais não digo).

Babylon de Damien Chazelle

Mesmo tecnicamente o filme corre mais do que uma quantidade razoável de riscos, como o uso de lentes anamórficas de grande abertura, para nos dar um sentimento de imersão e “scope” total, provocando um foco instável em muitas cenas, ou nas sequências filmadas em contínuo com as dificuldades e complicações daí resultantes, mas tudo isto vale a pena quando a alma do criador não é pequena, a alma deste jovem ambicioso que é Damien Chazelle, pleno de talento e garra para ter o desplante e o descaramento de tão cedo na sua carreira nos oferecer este excesso, esta excentricidade fantástica e inebriante chamada “Babylon”, a babilónia dourada desta arte tremenda chamada cinema. Margot Robbie está sexy, fabulosa, cómica e vibrante, Pitt seguro e charmoso, e Damien Chazelle continua a nos conquistar com a sua coragem e honestidade, o cinema, esse, continua a nos fazer sonhar. Obsolutamente obrigatório.