Os Avatares da nossa decadência

Os Avatares da nossa decadência

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No futuro, a humanidade conquistou as viagens interestelares mas acaba derrotada por seres de aspecto antropóide, montados numa espécie de cavalos voadores e armados com arco e flechas. É este o nível de imbecilidade que a história de Cameron espera que, digamos, “normalizemos”, e já agora, a desculpa de que se trata afinal de um filme para crianças é particularmente insultuosa, porque mesmo uma criança tem de saber que isto é parvo e sem sentido. De resto, de que trata Avatar 2? Cameron aposta no mínimo denominador comum do homem, o macho, o pai de família, investido na sua necessidade básica de defender a sua família contra a personificação demoníaca do “povo do céu “, a redução que Cameron faz dos invasores a uma espécie de seita capitalista fanática, uma turbe de gente acéfala, com um léxico reduzido a frases como “vamos lá ganhar uns trocados” enquanto torturam alegremente uma espécie de baleias alienígenas, já que neste filme, os seres humanos são em geral muito maus e muito, mas muito burrinhos, além de claro terem uma pontaria ao nível de um míope de 74 anos; e nessa regressão dos humanos a símios sedentos de lucro fácil, Cameron aproveita para importar todos os clichés possíveis e imaginários, e lá está o jovem rebelde, a mãe sedenta de vingança (e surpreendentemente xenófoba) e o mau muito mau e com aspecto de mau.

Avatar 2 – The way of water, de James Cameron

Avatar 2, além de ser um disparate estendido por 3 horas e tal de vacuidade mental que irá torturar qualquer QI superior a 70 até ao desespero, é sobretudo um filme perigoso: a unidimensionalidade das personagens, a superficialidade das suas motivações, vingança, lucro, despeito, e a ultra-simplificação que faz da temática da colonização, anda de mão dada com uma desumanidade surpreendente e chocante; neste filme morrem e são chacinados sobretudo humanos ( contei uma baixa entre os Na’vis), e só faltaram as palmas da audiência no momento em que o alienígena azul crava a sua arma pré- histórica no ser humano sombrio, ele sim o Avatar simbólico da nossa própria decadência. Um filme mau, um desastre de 2 biliões de dólares, muito difíceis de justificar a não ser pelo seu brilhantismo técnico, mas que mesmo aí não faz mais do que repetir o look hiper-saturado de cor digno do mais básico cartoon imaginável. Idiota, sem interesse e dispensável. Poupe o dinheiro.