A ilusão da verdade

A ilusão da verdade

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Não compliquem, bom cinema é isto: uma boa história, uma direção segura, um naipe de actores de eleição e um conjunto de artífices, desde o departamento de som até à direção de fotografia, que entrega a narrativa de forma eficiente e intensa, de maneira que nos deixemos emergir nesta obra multi-camadas sobre a relatividade da verdade e da justiça; mais uma prova, se fosse preciso, da vitalidade dessa escola de virtuosismo e inovação que é a escola francesa de cinema, de onde emanam, volta e meia, “mise-en-cenes” que cortam com a norma e nos resgatam a pureza do fascínio da sétima arte. Aqui seguimos o percurso de uma personagem acossada pela suspeita de um homicídio que propositadamente nos é apresentada com pontas soltas, e cheios de dúvidas embarcamos no processo jurídico da busca pela verdade, ou melhor, na construção da verdade possível apartir dos cacos do dia do acontecimento; pelo meio há no entanto uma criança cega e o seu cão, testemunhas do acontecido, mas também eles mais uma névoa sobre o caso, e com o passar do tempo a sensação que fica é que a verdade é impossível e somos convidados a acreditar ou não na inocência da personagem principal.

Cinema de eleição, seguramente um dos melhores filmes do ano, e forte candidato aos óscares, onde poderá perfeitamente fazer a gracinha de amealhar o prémio para melhor actriz, após a soberba interpretação de Sandra Huller, “Anatomia de uma queda” é um filme absolutamente obrigatório para os amantes da sétima arte, sobretudo pela pureza da sua genialidade artística