O carrasco e o culpado
Mais um exemplo da excelência da produção de origem Inglesa e do quanto proeminente se vai tornando a Netflix no panorama actual da 7a arte. A questão é que a Netflix tem feito um caminho inverso ao de muitas produtoras de cinema e televisão, apostando sobretudo na originalidade e na qualidade de produção, sem as amarras do que vende, do que tem hype nas redes sociais ou de qualquer outra coisa que imite uma fórmula de sucesso. É uma aposta de risco que por várias vezes colocou a Netflix à beira do abismo, mas que para bem de todos que gostam do que realmente interessa num bom filme ou série: uma boa história, qualidade de produção, bons actores, boa direção, boa fotografia; de alguma forma começa enfim a fazer alguma escola e a mostrar o caminho aos restantes “players” do mercado.
“Roma” esteve nos óscares a competir pelo galardão máximo, o que muitos interpretam, e eu incluído, como uma justa homenagem e reconhecimento à Netflix que mudou coisas e agitou águas.
Em “Broadchurch” ensaia-se mais uma vez a alegoria intemporal do culpado que enfrenta a vítima e a perplexidade, digamos assim, da sua condição: depois de julgado, depois de condenado, pagou ele por todo o sofrimento e destruição que provocou? Porque, se para ele se saldaram as dívidas para com a sociedade e o passado, para as vítimas o pesadelo em larga medida , continua…
Com a participação da incrível Olivia Colman, entretanto vencedora de um Oscar, os autores desta fantástica série da BBC elaboram uma tocante reflexão sobre o peso da culpa e da vivência depois da violência existencial da perda e do desaparecimento de um ante querido. Poderoso e comovente.