Criados por Monstros

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Não é muito comum séries de televisão com este grau de profundidade e rigor na abordagem a um tema espinhoso e complexo como a religião e o sua dialética com a humanidade em cada um de nós . O que mais me impressiona em “Raised By Wolves” é justamente o total desprendimento em relação às convenções que no fundo limitam as abordagens possíveis a um tema como este: falar da religião abertamente como uma força que corrompe, deturpa e delapida por completo a humanidade em cada um de nós, na medida em que nos circunscreve a muros de crenças e rituais, e em última análise nos privam da liberdade, da verdadeira liberdade.

Aqui o humanismo é detido por duas máquinas, encerrando-se o tema central da série na sua metáfora principal, a personagem “Mother”, a figura maternal que com o passar da história se vai humanizando cada vez mais, em contraponto aos restantes humanos que se diabolizam, e que já para o fim da primeira temporada regridem à mais animalesca e primária das condições. A personagem de Amanda Collin (numa soberba interpretação) vai descobrir a redenção do amor, perseguida que é pelos humanos cegos pela religião e o misticismo; daí também o contraponto de “Mother”: a criança inconformada (o revolucionário utópico), a minoria ruidosa representada por “Campion”, a criança supostamente frágil, um sobrevivente e a erva daninha da mudança.

“Raised By Wolves” passa na HBO

Para além das óbvias conotações políticas de imediata tradução contemporânea; religião e a cegueira da ignorância e do misticismo, sobressai também o virtuosismo técnico deste projecto que tem como Produtor Executivo e realizador de alguns episódios Ridley Scott; isto a par de uma fotografia belíssima, uma banda sonora enigmática e sedutora, além de um naipe de actores que emprestam a esta série, que sem dúvida ascenderá a objecto de culto em pouco tempo, um cunho de autenticidade que faz a diferença quando se abordam de forma tão descarada temas tão polémicos e sensíveis como a religião e humanismo.

Um trunfo precioso da HBO e uma série absolutamente obrigatória para quem ama a 7a arte. Para ver sem fé ou perdão.