Ai, os homens!...

Ai, os homens!…

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O tema da Masculinidade Tóxica foi aqui o mote para Garland descorrer em modo surrealista durante pouco mais de 100 minutos sobre os cabiantes de um relacionamento abusivo; o seu “Men” encerra por isso uma perspectiva polémica de um homem, o autor, sobre o universo feminino; Harper, a nossa personagem, é, tal como quase todas as personagens principais nos filmes do realizador, uma pessoa circunscrita a um cenário opressivo, em “Aniquilação”, a floresta, em “Ex-Machina”, o edifício do cientista, e aqui uma casa num tradicional campo Inglês do interiror. A mulher contacta então com uma sucessão de homens, todos com o mesmo rosto (“os homens são todos iguais”), cada qual evidenciando um determinado traço da Masculinidade Tóxica de que Garland quer falar, que aqui é o monstro que assombra Harper, esse monstro simbolizado no Green Men, o homem verde, que no folclore tradicional Anglo-saxónico representa os ciclos ininterruptos de morte e renascimento: as gerações de homens que se sucedem infinitamente , assombrando a mulher/Harper com o mesmo menu de perversões, opressão e violência.

“Men” de Alex Garland

Da terra nasce o homem, dele nasce o menino que quer brincar, que deseja, dele nasce o abusador que oprime e maltrata, depois o padre que viola e julga, e no fim, afinal, todos apenas queriam o impossível: ser amados. A metáfora central do filme, que Garland, inteligentemente, desloca para o final climático, numa cena propositadamente difícil e incómoda para o espectador, revela essa sucessão de renascimentos, a cadeia imparável da opressão sobre as mulheres, elas que se revelam impotentes para amar como os homens precisam, ou querem ser amados. Sim, é polémico, controverso e até perverso, achar que a cadeia da opressão tem génese na natureza e causas no amor. “Men” é o novo de Alex Garland, obviamente, a não perder.