A vida num Feed

A vida num Feed

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Imane é uma mulher, toda a sua vida foi, sempre combateu como mulher, mas não parece uma mulher, e esse é o real problema. Não tem mamas, não tem aquela anca larga, é feia e parece um homem, neste momento vivemos o tempo das redes sociais em que as meninas e os meninos mostram o corpo com a paisagem de Veneza, Paris, Formentera ou as Seychelles por trás em desfoque, porque Veneza ou Istambul é irrelevante, vivemos a época em que os gostos em fotos de cuzinho empinado alimentam o ego, e se perdeu o sentido da ordem natural das coisas, que somos além do que parecemos, que ‘ser’ é muito mais do que parecer. Não me interessa assim tanto o que eu pareço ser, e em certa medida estou me a cagar para o que as pessoas acham que eu sou, tendo no entanto a plena consciência que vivo numa época em que se cultivam estereótipos nas redes socias, em que se fomenta uma obsessão por corpos jovens e pelo normativo da beleza masculina e feminina, ao contrário do que nos é vendido pelos média.

Não, a nossa sociedade não está mais tolerante, está é mais dividida e o que nós “parecemos” ser conta muito, julgamos através dos olhos porque é o que fazemos, e na realidade a única coisa que podemos fazer, quando estamos no feed do Instagram ou do TikTok, quando julgamos de relance uma vida ou uma pessoa naqueles micosegundos efémeros em que um homem ou mulher é reduzido a uma imagem com Nova York desfocada por trás.