Na margem desse oceano cósmico
Não há nenhuma metáfora, nenhum adjectivo, palavra, ou provavelmente nenhuma frase que sequer se aproxime de poder descrever a magnitude da primeira foto de campo profundo do telescópio espacial James Webb que foi revelada pelo presidente Joe Biden; e neste momento absolutamente histórico invocamos nomes como Isacc Newton, Stephen Hawking, Albert Einstein, Johannes Kepler, Carl Sagan e todos esses homens e mulheres imortalizados na memória desta espécie jovem e sedenta de deslumbramento, e perante o espanto que nos tolhe o coração, perante o vislumbre da imensa abóbada do desconhecido, este nosso regresso às origens, que tem tanto de comovente como de profético, cumprindo o nosso destino rumo às estrelas, emerge uma profunda humildade, um sentimento de união com o Cosmos, os braços de uma mãe, o nosso regresso.
O James Webb não vê como nós, capta radiação infravermelha, uma luz esticada pela própria expansão do universo, e dessa forma mergulha no oceano de tempo rumo às profundezas da escuridão infinita, tocando a face de Deus, lá longe, onde nos reencontramos, o universo que se interroga a ele próprio, como escreveu Sagan. Nesta imagem de galáxias a perder de vista, vemos estrelas e mundos como foram quando o nosso universo tinha pouco mais que alguns milhões de anos, vemos a gravidade numa escala sem precedentes: a forma como molda e deforma o próprio tecido do espaço, a lente gravítica de um cluster no centro da imagem é a assinatura de algo ou alguma coisa que apenas agora começamos a compreender; o denso mistério da gravidade é a nossa porta de entrada no oceano de tempo que nos levará até ao instante da criação.
O James Webb já nos dá respostas a perguntas que ainda nem sequer colocamos e a jornada só agora começou. Perante o coração apertado, perante o puro deslumbramento, sentimo-nos como uma criança naquele primeiro dia na margem de uma praia, olhando o mar, e lá longe, o horizonte. Lembram-se? Estamos de volta.