Geração instagram
É já indubitavelmente um dos maiores acontecimentos do streaming e da nossa cultura pop contemporânea esta “reescrita” da nova adolescência, uma repintura do quadro do amadurecimento sexual no mundo do egoísmo, das drogas e da ausência interior. A geração Instagram, em que o ser humano anda sempre despido onde quer que vá, é retratada com a crueza necessária para nos transmitir o labirinto desta prisão emocional, pessoas que parece que nunca saem do lugar, que apenas dizem que querem sem nunca de facto conquistarem o que quer que seja. Produzida, entre outros, por Drake, um dos mais conhecidos rappers da actualidade, e em que cada episódio da 1a temporada é um título de um sucesso rap, é um remake de uma série Israelita homónima, que sublinhava ainda mais o confinamento emocional das suas personagens entre os muros ideológicos da Israel do sec 21, sendo que a versão americana se presta a ser além disso um manifesto visual que usa uma edição inteligente e uma fotografia repleta de cores primárias para nos criar um sentimento extra de sobressalto e náusea.
“Euphoria” retrata a vida de uma drogada, a Rue, e a sua autoestrada de degradação, questionamento, e auto destruição lenta, o caminho que percorre junto com os seus amigos, pais, e conhecidos num universo povoado de porno, pénis erectos, violência, inveja, e um grande vazio emocional; essa geração zombificada por uma sociedade centrada na juventude e na beleza, é aqui retratada numa série de reflexões de uma drogada que na sua vontade de lhe escapar nos obriga por isso a olhar de fora. E é esse olhar propositadamente exterior que é tão incómodo. Sem própriamente nada de muito novo na maneira como nos entrega a história, e com uma terraplanagem política demasiado evidente (o racismo não existe, o bullying não existe, as gordas sem bodyshaming, os transexuais não são vítimas de nada e os negros até vivem em boas casas e vão estudar para a faculdade), “Euphoria” acaba por ser a grande pedrada no charco do streaming deste início de década pela ousadia e pela vontade de falar da adolescência de forma desapaixonada e crua, sem o bullshit do costume. A geração que empina o cu no Instagram como nunca a viu.