Blade Runner

Blade Runner

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História terrível e distópica sobre a condição humana, e sobre o que significa exactamente “ser” humano. Um poema visual improvável, que é também um alerta angustiado e simbólico para um futuro que parece um beco sem saída, frio e escuro.

Num futuro não muito distante um polícia  de uma brigada especial, os Blade Runners, é destacado para uma perigosa missão: detectar 6 robots humanóides, conhecidos como Replicants, foragidos durante um motim numa colónia espacial. Foi este o pretexto para uma das mais poderosas e profundas reflexões que o cinema já fez sobre a condição humana, e o sentido da vida.

Importando o estilo visual do film-noir dos anos 60, como a noite perpétua e a chuva incessante, o filme adensa ainda mais o nosso estado de alma ao sermos transportados para a Los Angeles apocalíptica de 2019, tragados para o mundo distópico do detetive Deckard e dos Replicants, personagens como quadros numa obra que tem tanto de poética como de profundamente simbólica.

Adaptado um pouco livremente a partir dum conto de Philip K. Dick, “Do Androids dream width Electric Sheep”, realizado por Ridley Scott e escrito por  Hampton Fancher e  David Webb Peoples , o próprio processo de criação de Blade Runner dava um filme à parte; constantemente sub-orçamentado, e várias vezes à beira do precipício, a produção teve ultrapassar desde greves da equipa, ao despedimento do próprio realizador, já perto do fim da edição. Foi terminado em 1981 e saldou-se por um retumbante fracasso de bilheteira, em grande parte devido ao sucesso de E.T, estreado no mesmo ano, que talvez tenha criado no público um mind-set muito adverso a um filme tão soturno e distópico. Talvez o público de 1981 quisesse histórias positivas auspiciosas, não estando emocionalmente preparado para um filme com um sub-texto tão escuro e apocalíptico como o de Blade Runner.

Foi no entando nas prateleiras dos videoclubes, e mais tarde na internet, que Blade Runner ascendeu ao epíteto de filme de culto, quando finalmente encontrou a audiência certa e preparada para o labirinto tortuoso de emoções que o filme nos força a percorrer.

Considerado por muitos como um puro Art-Movie com múltiplas camadas de leitura e  personagens constantemente esmagadas por um edifício imagético feito de uma cenografia belíssima e uma fotografia inacreditável, para mim, Blade Runner é justamente essa experiência puramente visual, cinematográfica, mas também profundamente simbólica e tocante, que me  arrebata completamente; levantando questões filosóficas de grande densidade, como a vida e o tempo, ser humano ou máquina, o amor, as memórias e o sentido vago da existência, num testemunho eterno duma obra feita sem concessões, cena a cena, plano a plano, e que mesmo nas suas contradições e na turbulência da sua própria génese nos ensina o quanto improvável por vezes pode ser o acto de criação artística, quando é feito desta forma tão pura e arrebatadora.

Blade Runner é por isso um marco e uma charneira, uma referência para toda uma geração de cinéfilos, estudantes de arte, produtores e realizadores, que querem um cinema depurado na sua essência, intenso e plástico. Cinema feito obra de arte. Sem concessões.

Plano a plano.